sábado, 7 de março de 2009

"Eu perdi o paraíso mas ganhei inteligência
Demência, felicidade, propriedade privada"
[ Zeca Baleiro ]


Do lado de cá, um samba antigo talvez, ou nem chegava a tanto; apenas um sentimento de melancolia com o tudo o que ficou para trás; suspiro longo enquanto o sol arde sobre a cabeça cansada, ardido e luminoso, o sol, atrapalhava a vista e tornava o caminho mais longo. Contudo havia no ar um clima de tranquilidade e paz, brancos, que emanavam das roupas leves e dos braços e pernas que se moviam em plena comunhão com o vento.
As roupas gastas por tanto usar, guardavam consigo a dor e alegria das ocasiões, tantas, das quais fizeram parte, bem como as marcas que a idade lhe impelira ao longo da ciranda, ao longo da brincadeira de rodar e deitar na grama; contar os sóis e se abrigar do calor das estrelas.
Desse lado havia sorriso de mãe, preenchendo os cômodos da casa; do lado de cá as bailarinas se apoiando levemente nas pontas firmes dos pés e girando as saias de forma graciosa, no asfalto os carros buzinavam melodias lúdicas e reluziam com a graça do metal prateado. A memória falhava e misturava as estradas e as viagens, tornando-as leves e infinitas, preenchidas por horizontes com sóis poentes, nascentes; tudo com muita luz.
Do lado de cá eu bordava minha vida, e os tecidos eram leves, coloridos. Do lado de cá, eu sempre procurei estar vivo, sem ultrapassar as linhas tênues da vida; até que ultrapassei, e caí do outro lado, sem bússola no meio da noite eu senti medo, e me vi do outro lado da vida. Num jazz antigo, cortante, obscuro.
Desse novo lado da vida, não tem riso nem gargalhada, tem terno, gravata, e sonhos espalhados no chão.

Um comentário:

e para Maitê disse...

- E do lado de cá, Maysa, que preenche os cheios com vazios.

Tudo tão estrnho.

Ótimo texto, sentia falta de ler suas coisas.

Beijos.