sexta-feira, 23 de maio de 2008

Relembrar... É mentir!

'Quando muito digo
Eu me calo e o meu silêncio é raro'
[ Los Porongas ]


Numa espécie de pensamento Nabokoviano; me perco em devaneios tortos e difusos tentando de alguma maneira elucidar tudo o que se passa; então separar o sentimento físico do atrito mental, o fato da fantasia. Joio do trigo.
Investir em lembranças longínquas, afim de que, não se percam em meio às preocupações e novidades desse mundo moderno e ágil de hoje; inútil entretanto. Lembranças nunca são fiéis aos fatos, como se fossem fitas velhas que de tanto serem usadas ficaram gastas.
Basicamente é isso, lembranças são mutáveis e perigosas. Relembrar é 'mentir'; inverter o papel das coisas, o maior dos amores quando revisitados, se tornam equívocos; os maiores repúdios se tornam julgamentos errôneos que nos ocorrem, 'como eu era bobo'. É complicado essa coisa de organizar, ainda mais uma mente tão cheia de memórias.

Procurar adjetivos, se perder na busca de sinônimos e comparações, abusar de metáforas e eufemismos... Interpretar, comentar, criticar... Enganar, enganar, enganar.Pronto. Tudo como devia ter sido! Se foi a essência do fato concreto; entra em cena o veneno da poesia. Sim, poesia envenena da pior forma, ou seja, sem que se perceba.

Tem algo mais egoísta que relembrar? Acho que não. Recordações são individuais e indivisíveis. Mesmo lugar, mesma hora, mesma lua, mesmos sons, mesmo beijo, porém cada um guarda sob uma ótica diferente. E quando recordarem, cada um sentirá de um jeito diferente.
Melhor parar. O verbo sentir foi conjugado, e 'sentir' é perigoso.

terça-feira, 20 de maio de 2008

" E até quem me vê lendo o jornal
na fila do pão sabe que eu te encontrei"
[Los Hermanos]



Ei linda moça, onde vai assim vestida dessa forma?

Paz e riso, é assim que tu vais?
Toparás com santos e demônios, no caminho que vai se abrindo a teus pés descalços.
Pode ser que os bons ventos a guiem e te refresquem, o sol estará sempre sobre sua cabeça pra te iluminar e aquecer.
Tua inocência calará a todos os demônios e afugentará a noite, e que dessa forma, querubins e anjos estejam contigo.
Convocas faunos e ninfas para que dancem e acordem a primavera, primavera que se reflete em ti, através dos cheiros e cores das flores.Brotam as fontes e transbordam as cisternas, crescem as árvores que sombreiam teu caminho cravejado de flores e folhas.
Alegras os rostos e aqueces as almas pois traz consigo a velha chama: - Esperança!

Me diga linda moça, donde vens? O que queres? Onde guarda tanta luz e tranquilidade?
Não, não diga... Apenas siga teu caminho e teu sonho, não pare porque a estrada segue em frente, não sonhe nada, além do que for impossível!
Toma teu rumo sem medo, pois em teu rastro estão anjos e faunos, ninfas e ventos, sóis e sombras frescas, aos teus pés tens flores e folhas...
E ao teu lado... Tens a mim.



P.s 1º Antecipei meu inverno, mas as flores já estão voltando com calma.
P.s 2º Agradeço é claro a minha chatinha, sem ela o inverno ia durar.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Algo fez com que o mundo adormecesse, e entrasse numa longa noite, e a essa noite, foi dado o nome de: -1968!

Ficou guardada na mente de cada homem ou mulher, jovem ou velho, a cada um de uma forma completamente diferente, houve aqueles que, durante essa longa noite optaram por sonhar; sonhos dos mais variados, dos mais belos aos mais comuns, dos mais longos aos mais contidos, porém, todos à sua forma, eram belos.

Sonhou-se com a liberdade em dizer “sim” ou “não” com a mesma força e sinceridade, sonhou-se com a paz tanto nas selvas comunistas como nos corações do homem; poetas, todos foram poetas, cada um ao seu jeito, mas todos foram. Dormir, porém, não é só baseado em sonhos, e a vida também é feita de generais. Que também sonham.

Mesclou-se então os sonhos dos poetas – poetas, ao meu ver são todos aqueles com uma centelha de esperança e fé em suas mentes -, com os pesadelos dos generais; assim sendo, nossa bela noite fica mais e mais escura.

Ruas, praças, muros; bunkers, trincheiras, matas; tinta, idéias, rebeldia; armas, ordens, repressão... Lirismo, seqüestro, razão. Tortura, assassinato, protecionismo... Ninguém estava preparado para tudo o que se seguiu, as coisas ficavam confusas, e se misturavam; não era questão de bem ou mal, mas de certo e errado, e ambos estiveram errados em algum momento. Não havia meio termo, apenas extremos e exageros... De ambos.

O mundo de fato não estava preparado, e não soube aproveitar a beleza que poderia ter sido.

E citando Mundo Livre S/A, creio que de fato:

- “Sonhos nunca acabam bem, simplesmente porque nunca acabam, há sempre os que se afogam e amanhecem encharcados”.

1968 foi um belo sonho (quiçá o último), desses que não se chegam ao fim, porque acordamos antes do fim, e tentamos voltar para a cama e tentar continuar o sonho; mesmo sabendo ser impossível. Pois eles são assim, não acabam, mas também não se repetem.

Afinal é desperdício tentar reviver um sonho interrompido quando existem ainda tantos para serem sonhados.

Complexo e além do que se pode expressar em palavras e textos, fica no imaginário de quem quiser, basta se conscientizar...

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Mil acasos.

E hoje, inegavelmente sei que de alguma forma as coisas acabam encontrando seu rumo, mesmo que não haja um rumo certo e traçado, afinal não existe nenhum destino por assim dizer, não pode existir destino, nem carma e nem sina; que haja o acaso e as coincidências, que haja surpresa em nossos dias, afim de que se tornem belos.

Incerta e cheia de curvas a vida segue, e de cada tropeço se deve arrancar uma nova descoberta, ainda que no fundo escuro de um poço, ainda que tropecemos na alma de outro alguém, ainda que seja doloroso, ainda que súbito e bruto como um diamante raro, desses que se mata e se morre para se ter. Desses de sangue.
Pois quando o vento é forte a areia não fica no mesmo lugar. Quando a dor é grande o ser humano divide, quando a fé é forte o olho cega. Quem sai mais cedo assiste, quem sai mais tarde atua. Quem procura esquece, quem espera não alcança. Não existe ninguém pronto para ninguém pois as pessoas se entrelaçam, se moldam, adaptando-se à alma do próximo... E enfim se vão. Simples, o natural das coisas é terem um início, e terem um fim.


Ruas, carros, casas, janelas, semáforos fechados, esquinas, guerras, trens, cinemas, cafés, lojas, dinheiro, livros, cd's, shows, acidentes, atrasos, festas, escolas, revoluções, tecnologias, tempo... Tempo... Tempo. Leva-se tempo pra estarmos totalmente distraídos e sermos surpreendidos, o acaso não é uma ciência exata...E diga-se de passagem, está longe de ser humana.