terça-feira, 26 de maio de 2009

Perdão ( Ode a Chico )

Te perdôo
Por contares minhas horas,
nas minhas demoras por aí
Te perdôo porque choras, quando eu choro de rir
Te perdôo:
Te perdôo por te trair. [ Chico


Estão no bar, os dois, ele de branco e ela de preto. Ele cheirando perfume, ela cheirando cigarros. Ele pensando em flores, ela em facas. Cada qual procurando ali no peito, os corações que deviam existir:

De você, me ficaram três coisas, óbvio que não são boas babe, nem queira saber o que eu passei por sua causa, claro que tenho minha culpa ora essa eu nunca neguei que tive culpa, sei dela e assumo, sim aceito outro trago; sou eternamente culpado pelos meus medos e anseios que até hoje não consigo explicar, um medo louco de dar de cara com o muro, novamente, sabe meu bem?; esse muro que insiste em aparecer toda a vez que o amor se acaba, eu o conheço bem, não não diga que você também conhece, você não faz idéia do que é estourar sua cara no limo e ficar estendido no chão úmido, não sabe, não grita, foi você quem construiu a porra do muro conforme sua necessidade de liberdade, liberdade você dizia, só vi egoísmo, mais cerveja?
Você me abriu teu baú de segredos e talvez mais do que isso, eu tinha medo cacete, você despeja teus pecados e crimes, sim meu bem, luxúria é pecado, mentir é crime, eu era inseguro e me sentia na obrigação de te proteger, te perdoava sentia pena e te amava, mais e mais, enxuga esse rosto meu amor, vê se não borra a maquilagem à toa, não me diga que sabe o que é sentir vontade de chorar, passe o isqueiro por favor.
Eu chorava, e chorava por conta da sua vida estar fodida, e por eu sentir que eu não ajudava em nada, você via isso, não te comovia em nada? Nã-não, você não é rica darling, não era depressão, ah está se tratando, e eu já estou curado, mas não desvia minha atenção, aquilo tudo não te comovia? Porra, eu me comovia e me enternecia com tudo ligado a você, se tu não dormia eu sentia teu sono e se exagerava na bebida eu tinha dores de cabeça horrendas, não eu não vou gritar com você, não dou o prazer de me ver perdendo a linha; você nunca me amou babe, teu negócio é prazer e posse, você constrói os muros, os outros amam.
Pode ir ao banheiro, não tenho pressa, e vê se retoca a maquilagem, esconde sua máscara, mais cerveja?; belo batom, devo assumir, mas borrou ali, talvez seja teu dom, borrar as coisas e ainda asim deixa-las bonitas; talvez aí more o seu tal 'amor', esse paradoxo louco e triste, isso pode ser amor babe.
Não faça isso, não me peça essas coisas, eu quebrei o muro querida, levantei do limo e fui viver, não não adianta cara feia, não adianta, sem mais rosas pros teus prantos, eu prefiro as margaridas, sem beijo na testa, eu zelo por mim, devolva meus livros e meus discos, suba sozinha e bêbada as escadas, talvez você encontre o muro, talvez não, se encontrar me liga e se despeça porque amor é isso darling: Adeus. O que ficou de ti em mim? Seu beijo amargo me dizendo que era pra eu ser feliz, seu sexo apressado e o copo de café que você deixou pela metade, quando se foi.
Não, não to indo, mas acho que é sua vez de cantar, suba lá e cante, como da primeira vez, vou embora ao final, toma um whiskey, é bom pra voz.

Ela canta cigarros facas e escuridão, canta o amor que não conseguira sentir e canta também o amor que se estabacou no muro sujo. Dois ou três bêbados que por ali estavam lhe aplaudiram e gritaram cortejos, ela cai no palco, e sinceramente chora. A garganta dói, o peito queima; melhor não amar. Estica as mãos em busca de um cigarro: O amor é Adeus, consegue olhar para a porta do bar, a tempo de vê-lo de costas, saindo.

'Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde.'



quarta-feira, 13 de maio de 2009

Estimas de valores

Caiu em minha vida como quem não queria nada. Sem mais nem menos, apareceu. E por incrível que me pareça, não mais saiu. Não que eu fosse aquele que não tinha amigos ou camaradas. Gosto do convívio humano, mas aprendi a gostar ainda mais depois de conhecer o teu.
Não foi somente aquele com quem dividi segredos, cantei ao lado e cozinhei junto. Foi aquele que me ofereceu a mão junto ao braço. Que não me deixou cair com o oscilar bêbado de meus sentimentos. Foi o único a ficar quando as cortinas se fecharam, as luzes se apagaram e todos foram embora.
Das lembranças que tenho ao seu lado, não importa se foram boas ou se foram tristes, foram, antes de tudo, únicas. E sendo únicas; jamais esquecidas. O que tenho com você é a prova de que uma amizade pode sim mudar alguém, de que um amigo é mais do que cerveja no copo, ou futebol na televisão. Ah, com você aprendi o que é jamais estar sozinho, e que amigo de verdade não se faz, se reconhece. Não quero que viva por mim, nem que esteja presente em todos os momentos de minha vida. Quero que fique ao meu lado nas situações em que eu mais precisar como sempre esteve quando mais precisei. Pois tenha certeza, quando seguir em frente parecer um problema, fite sua esquerda e lá estarei.
O que tenho contigo, meu amigo, é inquebrantável. Dos abraços e sorrisos, só tenho o que lhe agradecer. Por cada momento, cada risada, cada copo vazio, cada lágrima derramada a teu lado. Roubaste minha solidão sem nem ao menos pedir licença. Me ofereceste amparo antes mesmo d’eu lhe pedir proteção. Me ensinaste a sorrir antes de me apresentar o nascer do sol. Inquebrantável é pouco, o que tenho contigo, é substancialmente eterno.

Canalha.




“Confia nos teus camaradas de verdade e no teu maço de Marlboro, eles são os únicos dignos de seus sentimentos”.