terça-feira, 7 de agosto de 2012

A história do Engenheiro da Nasa que possuia um elefante.



Era uma vez um engenheiro da Nasa e seu elefante...

Havia esse mecânico da Nasa,  trabalhava duro, trabalhava muito, mas não possuía muitos contatos com as pessoas ao redor, ele lidava melhor com parafusos e afins. Um dia, o mecânico recebeu a belíssima notícia de que havia sido promovido e agora ele não mais consertaria os foguetes, ele agora iria construí-los e projeta-los.
O ex mecânico, que agora era engenheiro, decidiu que precisava fazer algo com seu salário, que agora era muito mais gordo e podia proporcionar tantas coisas. Decidiu que precisava de companhia, e foi então que ele pensou em um cachorro, mas ele não era dado a cachorros,  nunca fora, e nem gatos, peixes e qualquer tipo de animal convencional. Comprou então um elefante, sim, pois pensou consigo, que precisava de uma companhia grande, para preencher todos os espaços, e ao mesmo tempo triste, para que pudessem conversar sobre suas semelhanças.
Não existe animal mais triste do que um elefante.
Com o tempo, porém, o elefante, que ainda era pequenino, rapidamente se tornou um incômodo, um problema grande demais para que o engenheiro pudesse  se responsabilizar, não havia espaço para ele mesmo em sua vida; é difícil cuidar de um elefante quando você sempre cuidou apenas de si mesmo.
Atordoado, e precisando de espaço, o engenheiro pediu para que pudesse viajar, arejar, refletir um pouco sobre a vida. Seus superiores decidiram manda-lo para a lua, porque no futuro, é assim que as coisas funcionam; a lua ficou tão próxima quanto a casa na praia em Caraguá.
Ao chegar na lua, logo o engenheiro pôs-se a olhar para a Terra e pensar no seu elefante tão longe, tão sozinho, com tanto espaço; o engenheiro então percebeu a falta que ele fazia, e então pediu para retornar à Terra, por achar que era algo simples, mas foi informado de que teria que esperar um dia, pois o ultimo ônibus espacial já tinha saído. Ele esperou, e no dia seguinte voltou à Terra, com os olhos brilhando por saber que iria rever seu elefante. Ao chegar em casa, nenhum sinal do paquiderme companheiro, nenhum vaso quebrado, nenhuma parede rachada, nada, apenas pegadas que iam até o portão, e seguiam.

Triste, o engenheiro decidiu voltar para a Lua e trabalhar por lá. E foi o que fez por anos e anos e anos.
Por fim, depois de não aguentar mais conviver com o silêncio, que antes de seu companheiro, era tão abundante, ele feneceu no lado mais escuro da lua, onde trabalhava.
Passado algum tempo de sua morte, aconteceu o inesperado:
Sem que ninguém soubesse, o engenheiro espalhou ao redor da lua, toneladas e toneladas de explosivos, e os programou para que explodissem no 5º dia após sua morte. E assim foi, quando ninguém esperava, a lua simplesmente explodiu, estava cheia como nunca, e explodiu. Tão próxima, e explodiu. Com seus coelhos, dragões e santos guerreiros, explodiu; a lua nunca mais foi redonda, desde aquele dia, até hoje, a lua se pareceria com um elefante.                                  

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Desaprendi a Andar.

Se já confundimos tanto as nossas pernas...

Depois dessa caminhada, todos os caminhos serão longos. E assim tem sido. Foi como desaprender andar como adulto e voltar aos tropeços, tão infantis quanto soletrar o bê-a-ba. Talvez por ainda estar deitado em sua cama, de bruços e focando a janela; o quarto em sépia e uma sensação leve de calor abafado. Ou por estar olhando o teto, com a cabeça no chão, desenhando nossa sombra com os olhos, teu corpo tão pequeno. Tudo tão confortável, tudo em seu lugar, que não me espanto de ainda estar deitado contigo, enquanto subo a rua de minha casa, que, hoje, me pareceu mais longa do que seus costumeiros metros.

domingo, 9 de agosto de 2009

Os quadros do quarto.

Enquanto estive com Luísa, ainda possuia dois corações batendo em meu peito, e não era tão estranho quando, por ventura, o coração de Luísa batia mais forte em mim; o coração dela era um pouco menor, e por isso as coisas ficavam confusas, nesses dias eu invariavalmente chorava e me sentia pequeno, inseguro, mas eram também os poucos dias em que eu me lembrava de regar minhas flores. Eu perguntava à Luísa se ela não sentia falta de seu coração, e ela sorria, sorria e sorria, me deixando confuso, mas a tudo perdoava teu silêncio, quando tocava meu peito, e mesmo seu coração estando em mim, dizia me amar; talvez por isso eu não me baste, hoje, com um coração só pulsando em mim. Sinto falta de Luísa pulsando em meu peito, e ainda mais falta de quando ela se sobressaia, e falta de quando eu me sentia pequeno e chorava; hoje, Luísa, contratei um jardineiro.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Moço

Seu moço, ainda sou jovem demais pra morrer de amor. Essas coisas levam tempo, nem três decepções nessa vida, e já me queixo tanto, de tanto amar. Diz pra mim, seu moço, essas coisas melhoram com o tempo?
Tomara que sim, vou guardando tudo isso aqui de dentro num aquário, e um dia, bem quente, me afogo e morro. E vai ser bonito, morrer num mar de amor.

sábado, 27 de junho de 2009

Três vezes, amor.

Enquanto a gente se arrasta
Eu prefiro isso aqui
Os automóveis são livres e agora
É preciso coragem
Olho meu rosto no espelho
E depois vou dormir


Chegava a senhora de cachecol vermelho e luvinhas pretas, contrastando as cores e adereços com sua idade já avançada, uma figura anacrônica em sua essência e apresentação, cabelos brancos disfarçados com tintura, mas possuia todos os dentes de forma muito bem apresentável - era o que salientava sempre, ao falarem de seus cabelos.

A neblina que restava mantinha o ar úmido, elevando assim a sensação de frio. Então, chegava a senhora se sentava ao lado do casal, sem pretenção alguma, e com muito zelo lhes pergunta o que faziam por ali - havia aula no momento e o pátio estava deserto. Não havia resposta cabível à tal pergunta, eram menino e menina, e estavam sentados no banco de concreto da escola; quando na verdade deviam estar em sala, talvez aprendendo algo que nunca usariam, mas se julga importante que aprendam. Não namoravam, e, portanto, sem o entrosamento do casal que se conhece por olhar os dois se perdem e ficam mudos, ela sorri e compreende que seria melhor não saber, se oferece para partilhar o frio daquela manhã de junho e fica por ali.
A mocinha se recosta no ombro do menino, demonstrando sentir frio. A senhora nesse momento pensava se talvez estivessem juntos, e então pergunta:
- Namoram, crianças?
Os dois riem e dizem que sim, mas cada qual com seu respectivo par, grandes amigos - salientam. Ela ajeitava o cachecol com grande cuidado, e lhes reformula a pergunta:
- Se amam?
Novamente risadas ecoam ao pático, mas o que se sucede é um grande abraço pontuado por uma afirmação contente; e o amor habitava naquele gesto singelo.
O menino lhe pergunta:
- E quanto à senhora, existe alguém em quem pense com mais frequência?
Era a vez da senhora de rir, ajeitar novamente o cachecol e declarar ter tido um único homem, ter sentido apenas um homem, no instante exato em que ela suspira e os olhos brilham, ele então reformula também:
E esse homem, o amava?
Ela então pega as mãos dos dois, com grande desvelo, e lhes segreda sua história sob a neblina de Junho:

- Anos atrás, muitos anos, me casei com o moço que conquistara o carinho de meu pai, eu tinha uma grande consideração por ele, e por amor a meu pai, me casei; e esse foi meu primeiro sacrifíco por amar. E vivi por três anos, pensando ter errado em meu idílio, e com três anos ao lado de um homem que até então eu não amara, descobri que talvez amar seja um tanto mais simples, pois se num domingo desses qualquer, me peguei sorrindo e festejando um título do time que ele torcia. Foi aí que percebi que eu não festejei o time, festejei a alegria daquele que dormia a meu lado todos os dias, abdiquei de meu repúdio ao futebol para partilhar sorrisos de meu homem; meu segundo sacrifício por amar.

A Senhora acende um cigarro, e seguida de uma longa tragada solta a fumaça com tamanha melancolia, como se visse a cena na fumaça que demorava a se dissipar em meio à névoa, se assustou ao vê-los olhando fixamente, esperando um desfexo, e prosseguiu:

- Senti que os três anos em que eu não o amara não tinham sido perdidos, mas ganhos, ganhei três longas chances de saber morar ao lado do amor. E de três em três, de títulos em títulos, eu ainda não sabia que o amor me exigiria um terceiro sacrifício; num dia desses, os pulmões de meu marido, se descobriram com câncer, lembro que ele chorou, e lembro de ter jogado todos os meus cigarros, e também os dele, ao vento, senti que nada daquilo salvaria meu amor, e ainda assim fiz com a firmeza de que estava lhe salvando a vida.

Novamente ela para, traga com ainda mais força e arremessa o cigarro. Ajeita o cachecol e se levanta, lançando uma lágrima ao chão e fixando os olhos nos dois no exato momento em que o sinal ecoa pelo pátio.

domingo, 21 de junho de 2009

Tinha a voz bela - diziam -, mas preferiu o silêncio: Calado, assim, o moço coloca o casaco e segue, dobra a esquina, anda por alguns metros e para em frente a um portão, adentra e olha a rua por um último instante; fecha o portão e se vira, contempla o roseiral que está no jardim, se ajoelha de frente a ele e faz uma oração. Se machuca numa das rosas, limpa o sangue que escorre, e decide voltar a cantar... Um outro dia, quem sabe.

sábado, 13 de junho de 2009

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Caminho(s)

Creio que fui deixando um pouco de mim para trás, à cada centímetro; desde que virei as costas para Helena naquela estação para nunca mais voltar. Fui ficando em migalhas pequenas, à cada passo que eu dava, sentia que só podia ser inteiro nos olhos de Helena; mas não voltaria. Meus braços foram os primeiros a ficarem pelo caminho, os últimos a tocarem Helena, depois minha boca, meu rosto não tardou e então joelhos, e então me virei enquanto me restavam os pés e olhos, tendo boca eu teria sorrido, ao ver Helena recolhendo o caminho que deixei para ela.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Estojos ao chão

Mocinha abaixada no chão, com o rosto rubro de vergonha, tenta recolher os lápis e canetas que se espalharam pelo assoalho de madeira da sala de aula, "Pegue tudo" ralhou a professora lá da frente - com a autoridade de um sargento que intimida o soldado -, "Pegue e sossegue na carteira, já me canso de tantas vezes, destrambelhada que só". A menina, de pele alva, se recolhe ao seu lugar e tenta se acalmar, o rosto ainda rosado, se afunda no caderno e faz um desenho de sua professora: Quepe afundado na cabeça até os olhos, farda repleta de medalhas - uma matadora. Se riu por alguns instantes de sua obra prima, olhou para a sala e ninguém mais ria, não que ainda se importasse realmente com os colegas de classe, eles não, riam apenas por costume do ridículo, coisa da idade, não lhes queriam mal. Conversa fiada com Clarinha e Aninha, lhes mostra o desenho e todas riem abafadinho, ai se a professora ouve, aponta o lápis verde para terminar de pintar, a ponta quebrou durante a queda. Se impressionava como sempre o lápis verde se quebrava, tantas cores e todas caiam e lascavam, se tanto, mas o verde sempre tinha de ser apontado após as inúmeras quedas e ela sentia dó dele, se extinguindo antes da hora, e tão lentamente.
Sinal batendo estridente, levanta correndo a pobrezinha, e a cena repete, mas o estojo estava fechado dessa vez, ninguém nota. No ônibus senta-se ao lado de um moço dormindo, observa-o por cima das lentes do óculos e se sente familiarizada, nunca o viu e nunca mais veria e era bom tê-lo ao lado. Crespos branquinhos, um pouco calvo, pele negra por baixo do suéter antigo de quando talvez fosse mais novo, e dormia. Sacou o lápis a mocinha, desenhou um desenho belo de seu novo amigo, diferente da professora sargenta e lhe deixou sob a mão que segurava a divisória do assento. Mocinha, mocinha, distraída e destrambelhada a mocinha, não segura a freada do ônibus e bate a boca no ferro; sanguinho escorrendo do lábio e lagriminha do olho esquerdo, o cobrador solicito pula ao chão do ônibus e, cuidadoso, limpa a roupa branca "Cuidado, tá cedo pra dormir", e ri. Desce antes do ponto, despede-se do companheiro ao pular da escada do transporte, linda mocinha olha as cores que a água e o óleo do carro fizeram no chão, como se distrai a pequenina, senta no banco e olha a mancha, torcendo para o mundo não girar mais e para não estragar tão bela mancha, ela brincava com a manchinha, à distância, tão pequena já sabida de que as coisas de perto são distorcidas, tudo se torna caleidoscópico quando se aproxima, e talvez por isso o amor é tão bonito de perto, distorcido; tão óbvio, só tão pequenina assim pra entender, só tendo olhos tão tristinhos pra entender. Outro desenho, atira ao vento este, e corre pra casa sob a calçada molhada e imagina que as nuvens tem a cor de arco-íris, e as perninhsa finas passando rápidas sobre as poças, começa a gotejar, corre querida, corre pra não molhar, e ela corre até o portão cinza, abre, e então o mundo desaba em líquido. Ela ri, solta os cabelos e tira os chinelos ao entrar em casa, corre escada a cima e se tranca no quarto, encosta as costas na porta e desce se escorando, pula pra cama e abre a mochila, lápis sobre a escrivaninha, e a mocinha liga a música, e se volta para a mesa com tal alegria, e desenha, desenha tudo o que lhe vem à mente, música alta e mocinha dá traços aos sons, sol s e pondo e ela inverte as cores. No seu quarto ela é tão feliz quanto se pode ser, e não é solidão ou medo do mundo, mocinha é ela mesma.
A mãe bate na porta," Desliga o som, vai acabar surda menina", queridinha levanta num pulo, o tempo lento, os lápis caem ao chão e se espalham, ela dança em direção ao som, o chão é feito de plumas, ela desliga e as plumas somem, cuidado mocinha; ao chão, querida, ela cai sobre seus desenhos, pobrezinha ri e adormece... Durma meu bem, durma que tão cansada está, durma e logo acorde querida, teus lápis estão ao chão espalhados, parecem um arco íris se olhar bem; e a menina dorme... Enquanto sonha, ela não sabe que o lápis verde não perdeu sua ponta; foi o azul.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Perdão ( Ode a Chico )

Te perdôo
Por contares minhas horas,
nas minhas demoras por aí
Te perdôo porque choras, quando eu choro de rir
Te perdôo:
Te perdôo por te trair. [ Chico


Estão no bar, os dois, ele de branco e ela de preto. Ele cheirando perfume, ela cheirando cigarros. Ele pensando em flores, ela em facas. Cada qual procurando ali no peito, os corações que deviam existir:

De você, me ficaram três coisas, óbvio que não são boas babe, nem queira saber o que eu passei por sua causa, claro que tenho minha culpa ora essa eu nunca neguei que tive culpa, sei dela e assumo, sim aceito outro trago; sou eternamente culpado pelos meus medos e anseios que até hoje não consigo explicar, um medo louco de dar de cara com o muro, novamente, sabe meu bem?; esse muro que insiste em aparecer toda a vez que o amor se acaba, eu o conheço bem, não não diga que você também conhece, você não faz idéia do que é estourar sua cara no limo e ficar estendido no chão úmido, não sabe, não grita, foi você quem construiu a porra do muro conforme sua necessidade de liberdade, liberdade você dizia, só vi egoísmo, mais cerveja?
Você me abriu teu baú de segredos e talvez mais do que isso, eu tinha medo cacete, você despeja teus pecados e crimes, sim meu bem, luxúria é pecado, mentir é crime, eu era inseguro e me sentia na obrigação de te proteger, te perdoava sentia pena e te amava, mais e mais, enxuga esse rosto meu amor, vê se não borra a maquilagem à toa, não me diga que sabe o que é sentir vontade de chorar, passe o isqueiro por favor.
Eu chorava, e chorava por conta da sua vida estar fodida, e por eu sentir que eu não ajudava em nada, você via isso, não te comovia em nada? Nã-não, você não é rica darling, não era depressão, ah está se tratando, e eu já estou curado, mas não desvia minha atenção, aquilo tudo não te comovia? Porra, eu me comovia e me enternecia com tudo ligado a você, se tu não dormia eu sentia teu sono e se exagerava na bebida eu tinha dores de cabeça horrendas, não eu não vou gritar com você, não dou o prazer de me ver perdendo a linha; você nunca me amou babe, teu negócio é prazer e posse, você constrói os muros, os outros amam.
Pode ir ao banheiro, não tenho pressa, e vê se retoca a maquilagem, esconde sua máscara, mais cerveja?; belo batom, devo assumir, mas borrou ali, talvez seja teu dom, borrar as coisas e ainda asim deixa-las bonitas; talvez aí more o seu tal 'amor', esse paradoxo louco e triste, isso pode ser amor babe.
Não faça isso, não me peça essas coisas, eu quebrei o muro querida, levantei do limo e fui viver, não não adianta cara feia, não adianta, sem mais rosas pros teus prantos, eu prefiro as margaridas, sem beijo na testa, eu zelo por mim, devolva meus livros e meus discos, suba sozinha e bêbada as escadas, talvez você encontre o muro, talvez não, se encontrar me liga e se despeça porque amor é isso darling: Adeus. O que ficou de ti em mim? Seu beijo amargo me dizendo que era pra eu ser feliz, seu sexo apressado e o copo de café que você deixou pela metade, quando se foi.
Não, não to indo, mas acho que é sua vez de cantar, suba lá e cante, como da primeira vez, vou embora ao final, toma um whiskey, é bom pra voz.

Ela canta cigarros facas e escuridão, canta o amor que não conseguira sentir e canta também o amor que se estabacou no muro sujo. Dois ou três bêbados que por ali estavam lhe aplaudiram e gritaram cortejos, ela cai no palco, e sinceramente chora. A garganta dói, o peito queima; melhor não amar. Estica as mãos em busca de um cigarro: O amor é Adeus, consegue olhar para a porta do bar, a tempo de vê-lo de costas, saindo.

'Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde.'