domingo, 8 de março de 2009

Declaração em preto e branco.

É paixão que não se explica. Só se entende quando ama. Paixão que se resolve com suor. Com grama. E termina com roxos na canela.

Paixão de perder o fôlego e ainda conseguir cantar. De querer mostrar ao mundo – ou até mesmo ao seu cachorro – que ela existe. Que é paixão, que é ardente, que não tem limites.

É paixão poética, homérica, platônica, perdida, louca, desvairada, sofrida, chorada. É paixão por si só, seja na alegria, seja na tristeza. Não, esqueça, não há tristeza. Os domingos são sempre de sol, independente da chuva, ou da derrota.

Paixão de já quase 100 anos. De vitórias, de derrotas. De glórias, de honra, de raça, de prosperidade, de alegria, de multidões.

É preta, é branca, é roxa. Tá estampada no peito, gravada na pele, fluindo nas veias. Paixão de se sentir mais brasileiro !

É paixão de nascer, de viver – e de morrer – sempre, independente de tudo, pelo Corinthians.

sábado, 7 de março de 2009

"Eu perdi o paraíso mas ganhei inteligência
Demência, felicidade, propriedade privada"
[ Zeca Baleiro ]


Do lado de cá, um samba antigo talvez, ou nem chegava a tanto; apenas um sentimento de melancolia com o tudo o que ficou para trás; suspiro longo enquanto o sol arde sobre a cabeça cansada, ardido e luminoso, o sol, atrapalhava a vista e tornava o caminho mais longo. Contudo havia no ar um clima de tranquilidade e paz, brancos, que emanavam das roupas leves e dos braços e pernas que se moviam em plena comunhão com o vento.
As roupas gastas por tanto usar, guardavam consigo a dor e alegria das ocasiões, tantas, das quais fizeram parte, bem como as marcas que a idade lhe impelira ao longo da ciranda, ao longo da brincadeira de rodar e deitar na grama; contar os sóis e se abrigar do calor das estrelas.
Desse lado havia sorriso de mãe, preenchendo os cômodos da casa; do lado de cá as bailarinas se apoiando levemente nas pontas firmes dos pés e girando as saias de forma graciosa, no asfalto os carros buzinavam melodias lúdicas e reluziam com a graça do metal prateado. A memória falhava e misturava as estradas e as viagens, tornando-as leves e infinitas, preenchidas por horizontes com sóis poentes, nascentes; tudo com muita luz.
Do lado de cá eu bordava minha vida, e os tecidos eram leves, coloridos. Do lado de cá, eu sempre procurei estar vivo, sem ultrapassar as linhas tênues da vida; até que ultrapassei, e caí do outro lado, sem bússola no meio da noite eu senti medo, e me vi do outro lado da vida. Num jazz antigo, cortante, obscuro.
Desse novo lado da vida, não tem riso nem gargalhada, tem terno, gravata, e sonhos espalhados no chão.