segunda-feira, 28 de julho de 2008

Resumo.

Quando entre nós só havia
uma carta certa
a correspondência
completa
o trem os trilhos
a janela aberta
uma certa paisagem
sem pedras ou
sobressaltos
meu salto alto
em equilíbrio
o copo d’água
a espera do café.

[ Ana Cristina Cesar ]


E, o outrora casual e sem pretenção, deu lugar à saudade do trem se aproximando da estação; cada vez mais constante a cena, cada vez mais comum.

E o trem, ferro sobre ferro; ganha sua poesia aos meus olhos. O trem sempre me trouxe boas novas, e fico, como cliente à espera do café que anda em minha direção; em tuas mãos.

Janelas entreabertas por onde não se fez necessário hesitação, de nenhum de nós, fizemos da janela uma porta, e da porta nosso caminho, nossa trilha. Ladeada de sorte e bons acasos; bons ventos a trouxeram.

Já foram trens, cartas, beijos; já não mais é abstrato; o trem se aproxima, o café está quente.

É ato;
é fato.

Ainda há pouco, eu fantasiava o trem, e fantasiava sua chegada. E quanto vi, já estava com seu cheiro em mim. Teu, não do trem.



segunda-feira, 21 de julho de 2008

Cafés, papos.

Se ainda embriagado pela fome
Exatos teu perdão e tua idade
O indulto a ti tomasse como bênção
Não esconda tristeza de mim
Todos se afastam quando o mundo está errado
Quando o que temos é um catálogo de erros
Quando precisamos de carinho
Força e cuidado
Este é o livro das flores
Este é o livro do destino
Este é o livro de nossos dias
Este é o dia de nossos amores [ Renato Russo ].

Não sabes o quanto possui a eterna calmaria de um sorriso sincero. Gostoso, ver e ouvir. Não abale, não fique triste; a beleza da vida está na descoberta. Se descubra, se cuide.

Queria poder te indicar em que cruzamento a vida se bifurca e nos confunde, mas não posso, também não sei, também me enfraqueço, também tenho medo; mas não solto tua mão, no escuro, como cegos, tatear estrelas distraídas, fico do teu lado!

As coisas caminham, seguem, se perdem. As pessoas também, é natural se perder. Opcional é se achar; embora sem mapas, bússolas, tens um companheiro.

Vai passar, vai passar. Sempre passam.

Com carinho, e cuidado. Um beijo


domingo, 20 de julho de 2008

Perdas e danos.

Viver é risco preciso, verbo transitivo estranho.
[ Itamar Assumpção ]


Feliz, somente o horizonte, que, distante só se pode chegar através de poesia; ou promessas.

*****
Com a experiência em perdas, de fuscas, cartas, amigos, carinho entre outros; me doem as oportunidades, que passam.

*****
É que as perdas servem, nas entrelinhas, para abrir e remexer os baús que mantemos trancados enquanto felizes. Uma perda nos passa os sal nas feridas e tranca nossas esperanças. Uma rasteira, algo como 'a realidade dói'. E como.
Curioso, mas é assim que crescemos.

Bem aventurados, ao meu ver são aqueles que ao perder algo tentam fazer da dor algo bom, para si, ou para os outros, seguir. Dor elegante, diriam. Só não imagino ninguém que tenha essa habilidade, ninguém quer ser lembrado de que está vivo e assim arcar com as consequências de assim estar, é tão difícil, essa obrigação de ser forte quando necessário, e ser leve nos outros momentos, ser humano e frio.
Quase nunca se dá, a gente perde o passo e o ritmo, se enrola na dança e pára no meio do salão; nunca dance sozinho, essa dança da vida, merece alguém para partilhar uma dança, a fim de; aguentar as perdas, e os danos dessa longa valsa que não possui um acorde definido para acabar.

Inspire, expire. Reflita... Recomece com amor, com carinho.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Nudez. ( Ou, ode ao corpo )

Dê amor. Dê paixão
Dê espera. Dê esperma
Dê prazer. Dê fogo
Dê uma nela, de carinho
De sacanagem, de sarro
De fato.
Dê amor. Dê segurança.

De anca na anca dela
E amanheça de cabeça dentro dela [ Tatá Aeroplano ]

Sempre tive a nudez como uma demonstração de fragilidade. Desde a infância quando a mãe ou o pai mandavam fechar os olhos em uma cena mais "picante" ( expressões que os pais gostam "pesada", "picante", "coisa de gente grande", e outros eufemismos que a vida trata de desmascarar).
O curioso disso tudo é que de certa forma a proposta não é esta ( fragilidade ), mas sim força, auto-suficiência, coragem, algo como : Nossa, viu só? Fulano(a) saiu pelado(a). Que coragem não?
Quando na real, a pessoa está em seu estado mais frágil e desprotegido, já que, está como veio ao mundo, não nú propriamente dito pois estamos nús nas barrigas de nossas mães, mas estamos super protegidos lá. Aqui fora, não.

É muito engraçado, pois nossas mãos nunca estão cobertas, portanto sempre nuas, mas as mãos não são associadas à vulgaridade ou algo feio. Mãos são belas e poéticas e possuem todo o direito de andar por aí, nuas; é como se elas tivessem o direito divino de até mesmo em contato com as partes "picantes" ( pais ), ficarem em segundo plano, como se fossem sempre puras. Porém, vejo mais perigo numa mão, do que numa bunda.
O que houve, ao meu ver; ba-na-li-za-ção:
Como se um seio à mostra substituísse as idéias que uma mulher tenha, como se um belo par de seios fartos tivesse mais chance de chocar/mudar o mundo, do que os crimes cometidos contra a própria humanidade.

Indignação e vontade. Curiosidade e medo. Vergonha e desejo. Tesão e repulsa.
Quantos pólos um corpo nú consegue atinar com toda sua simplicidade?
À mim, como já disse, além de qualquer outra emoção, vem aquela idéia de fragilidade e falta de proteção, sendo assim não consigo encarar a nudez como outra coisa senão a perfeita ilustração das mentes dos humanos : Nuas e desprotegidas, frágeis e suscetíveis.

Vejo muita beleza na perfeição do corpo humano exposta, no formato dos ombros, na força ( ou não ), das pernas e pés, da sensualidade disfarçada das costas, a beleza incitante dos ossinhos acima da virilha. Viu, nudez não se resume à peitos bundas e sexos. Um pé descalço está tão nú quanto um seio. O que é a vulgaridade então? À mim, vulgares serão sempre as mentes e os olhos.

Não é falta de vergonha na cara, e nem 'safadeza', mas nosso corpo é o que de mais belo e perfeito teremos nessa vida. Partindo disso, mostrá-lo, é igualmente belo, se feito da maneira correta.

Me encare como queira, mas um par de peitos nunca vai me chocar tanto quanto as mãos cheias de sangue de um assassino, ou a mente de um político corrupto. É uma questão de princípios, como dizem por aí.



quinta-feira, 10 de julho de 2008

Baque

10 de julho de 2008; 9:00 a.m; Horário de Brasília.

Dentro do meu sono, ainda profundo já que fui dormir um pouco tarde na noite anterior, fui acordado de repente pela voz do meu pai, me pedindo ajuda para usar o computador, ainda sonolento eu abri os olhos e resmunguei que já estava indo, ele então saiu do quarto, cinco segundos depois, se tanto, ele entra novamente e dispara:
- Ele não resistiu, foi embora há pouco.
Foi como receber uma bela quantidade de água fria no rosto pela manhã, os pensamentos que há 5 segundos estavam desordenados e sonolentos simplesmente, acordam e trabalham com toda a intensidade.
Não foi necessário perguntar muito, eu sabia muito bem o que estava se passando. Só não compreendia o porquê. Nesses momentos as coisas simplesmente giram em nossa cabeça, passamos noventa por cento de nossas vidas nos preparando para esses acasos ( se é que posso chamar assim, algo tão sério ), e simplesmente nunca estamos preparados. Sequer estaremos.
Queremos algum tipo de dica, algum aviso - sinal, como alguns preferem - esquecemos que não estamos aqui para ensaiar, não tem ninguém pra gritar 'se prepara'. Talvez esteja aí o segredo, não estar preparado, e aceitar isso. Encarar nossa fragilidade com coragem, aceitar que por mais clichê que possa ser, a vida é curta, grossa; e imprevisível.

Diz-se por aí que precisamos passar por provações, e que a morte é uma delas. Só não consigo entender, que lição habita em perder alguém que nem chegamos a amar completamente, alguém que não tivemos a oportunidade de sequer ver. Não me entra na cabeça o famoso discurso de 'Deus sabe o que faz', se tanto o sabe, me digam. Porquê então, demonstra o oposto.

Não é falta de fé e nem ateísmo.Tristeza e incompreensão, somente.

No mais, deixo aqui meu luto à Pedrinho, que nem ao menos viu um sol ou sentiu uma brisa. À você que não sorriu ou andou descalço. Que não conheceu à mim, e nem eu te conheci.
Só me resta, deixar à ele, esta pequena homenagem.


Nasc: 12/06/2008
Falec: 10/07/2008

Sem clichês e sem cerimonias. Apenas a dor.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Anatomia romântica

É porque o mundo, apesar de redondo, tem muitas esquinas.
[ Caio F. ]


Me dê então pernas, e que assim, eu nunca pare;

olhos, pois preciso me guiar e me manter;
boca, pois quando calam-se os pensamentos, ecoa a voz;
mãos, já que não posso me soltar nunca.

Me dê, você;

Que me olha por entre as lentes cuidadosas de seus óculos, tão peculiares;
você, que me faz continuar, sendo um amparo;
que me ouve e que passa as mãos entre os fios de cabelo tão cansados quanto o dono.
Que ao fim, me sussura entredentes, apenas para mim: Te amo, te amo, te amo...



quinta-feira, 3 de julho de 2008

Agro-sentimental

É que.
Sempre cultivei as pessoas,
plantei os frutos
e por fim colhi as sementes.

Aro os pensamentos
sulco meus sonhos.

Já reguei amor
quando este, podado devia ser.

Ervas daninhas, por fim.

Cultivo as pessoas. Ainda.