
Nem poesias nem baladas,
apenas água e calma.
Abre a alma e mostra os seios,
entre os seios me abrigue sem receio.
apenas água e calma.
Abre a alma e mostra os seios,
entre os seios me abrigue sem receio.
Estou sentado nesse
banco e pego um pedaço de papel surrado do bolso. Leio com calma e guardo com
uma delicadeza desnecessária - tendo em vista o estado surrado em que ele se
encontra - cruzo meus braços e me protejo do frio que faz nesse outono. O frio
aperta, apesar do sol, creio que seja culpa do vento, meu moleton não chega a
ser suficiente para conter o final de tarde de outono; existe céu mais bonito
que o céu de outono?
Poucas nuvens, um sol forte, porém ineficaz, e um azul completamente diferente, azul que prefiro não nomear.
As folhas secas do bambuzal caem conforme o vento bate, e o vento está batendo muito, muitas folhas pelo chão, então me arrisco a ficar descalço apenas pisando na maciez das folhas, apesar de secas, e começo a pensar 'ando tão vivo'.
Olho o jardim com certa curiosidade, ele parece diferente à cada época do ano, embora pareça óbvio assim falando. Analizei-o com calma, sem a pressa de encontrar algo específico; sabendo, entretanto, que encontraria. Outro sopro forte do vento, e mais algumas folhas caem, não tenho vontade de tirá-las, deixo-as cairem onde quiserem.
Nesse momento o céu começa a tomar outros tons, embora o azul ainda predomine, já vejo nuances fúscia ou arroxeadas, tudo com muita calma.
Outra rajada de vento... Mas essa veio diferente, senti algo além de folhas e vento no rosto, me perdi em dois aromas suaves e distintos; o primeiro era um cheiro quente e forte, impregnava as narinas, se aproveitando do ar seco e do vento, o segundo cheiro... Era seu, mas não havia você.
Eu não sabia se eu estava lhe esperando, ou se você simplesmente havia chegado. Confundi saudade com vontade, afinal eram apenas odores.
Inspirei novamente o ar cada vez mais úmido, e então não resisto, me rendo; penso em você; com força. Penso no que eu diria, caso você estivesse de fato aqui.
Poucas nuvens, um sol forte, porém ineficaz, e um azul completamente diferente, azul que prefiro não nomear.
As folhas secas do bambuzal caem conforme o vento bate, e o vento está batendo muito, muitas folhas pelo chão, então me arrisco a ficar descalço apenas pisando na maciez das folhas, apesar de secas, e começo a pensar 'ando tão vivo'.
Olho o jardim com certa curiosidade, ele parece diferente à cada época do ano, embora pareça óbvio assim falando. Analizei-o com calma, sem a pressa de encontrar algo específico; sabendo, entretanto, que encontraria. Outro sopro forte do vento, e mais algumas folhas caem, não tenho vontade de tirá-las, deixo-as cairem onde quiserem.
Nesse momento o céu começa a tomar outros tons, embora o azul ainda predomine, já vejo nuances fúscia ou arroxeadas, tudo com muita calma.
Outra rajada de vento... Mas essa veio diferente, senti algo além de folhas e vento no rosto, me perdi em dois aromas suaves e distintos; o primeiro era um cheiro quente e forte, impregnava as narinas, se aproveitando do ar seco e do vento, o segundo cheiro... Era seu, mas não havia você.
Eu não sabia se eu estava lhe esperando, ou se você simplesmente havia chegado. Confundi saudade com vontade, afinal eram apenas odores.
Inspirei novamente o ar cada vez mais úmido, e então não resisto, me rendo; penso em você; com força. Penso no que eu diria, caso você estivesse de fato aqui.
'- Te esperaria sentado nesse mesmo banco,
nesse mesmo outono, ou numa próxima primavera, te esperaria com o semblante
alegre de quem acredita nas pessoas; pode ser que eu envelheça esperando,
sentado olhando as folhas e o céu azul, mas eu te esperaria. Mesmo que eu ficasse
enrugado e com os braços fininhos e fracos esperando os seus, eu esperaria.
Eu não deixaria de esperar, nem de viver enquanto espero, nunca, pois não consigo não confiar em você, e pensar que viria se sentar comigo, pediria desculpas pelo atraso e teríamos um bom futuro; te esperaria nesse banco puído de madeira no meio desse jardim que seria só nosso, só te peço que venha, pois eu esperaria.'
Eu não deixaria de esperar, nem de viver enquanto espero, nunca, pois não consigo não confiar em você, e pensar que viria se sentar comigo, pediria desculpas pelo atraso e teríamos um bom futuro; te esperaria nesse banco puído de madeira no meio desse jardim que seria só nosso, só te peço que venha, pois eu esperaria.'
Paro de sussurar e o vento me bate no rosto
novamente. Aromas próximos. Um leve arrepio na nuca e então fecho os olhos por
alguns segundos, sinto como se me cobrissem com algum uma manta, abro os olhos
e vejo você, que me cobre, me beija a testa, me entrega uma xícara, se senta, me
sorri e diz algo como 'cuidado, está quente’, bebo um gole de café, e seguro
sua mão com força, te afago os cabelos, reclamo do frio, faço alguma piada,
pergunto sobre seu, você me conta, te olho fundo e puxo o ar novamente no
momento exato em que percebo que já não preciso mais te esperar.