segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Aquele, dos vagos pensamentos.

A água gelada que batia e descia pelo rosto, banhando então o corpo lhe trazia uma sensação astral. Como se uma energia ruim estivesse sendo expelida pelos poros de sua pele e dissolvendo-se no ar. Sumindo.

Seus dias eram sempre iguais. A rotina de sempre; intercalada entre estudos, leituras, e cólera aos fins da semana. Eram dias difíceis os quais enfrentava, onde tudo era uma mesmice, e tal mesmice viciosa não lhe fazia sentir vivo. Apenas mais um no mundo. Mais um chip do sistema.
Não sonhava. Havia se cansado de sonhos – e preces também – não tinha metas, não tinha objetivos. Já não se importava, tudo era como era e pronto. Consumavam-se os pensamentos em tal idéia. Já não tinha forças para querer mudar. A toalha já havia sido jogada... Fazia tempo.


Fechava os olhos e apenas branco lhe vinha na cabeça. Embaixo do chuveiro, com a cabeça para o céu - como que estivesse orando - não pensava em nada. A não ser, em um sorriso. Sorriso o qual, na realidade, nunca havia visto cara-a-cara. Sabia como ele era. Mesmo que congelado nas fotografias, onde o conheceu, conseguia imaginar tal sorriso em movimento, a cinco palmos de sua face. E junto dele os olhos, os lábios, o formato maçante das bochechas. A respiração ofegante, porém fraca sobre o seu rosto. Podia sentir o cheiro, já até imaginava. Algo doce. Não daqueles perfumes as quais todas usam, era um cheiro próprio. Vinha da pele, dos cabelos, do couro. Um cheiro propriamente dela.
Esboçou um sorriso – não sorria a tempos naqueles dias – e colocou ambas as mãos na nuca, juntando os cotovelos. Pela primeira vez – há muito tempo – sentia-se novamente vivo. Nem a glacial temperatura da água sobre o corpo poderia esfriar tal calor que sentia por dentro. O qual enchia os pulmões. Uma mistura de medo, euforia e vontade pelo desconhecido. Ela conseguiu aquilo que ninguém havia conseguido. Alegrava o rapaz, fazia o viver.
Passou a mão pela válvula na parede. A água foi se tornando escassa até então cessar. Puxou a toalha, começou a esfregar o rosto. Pouco a pouco secava o corpo ainda nu. Cabelo, tronco, pernas e braços. Finalizando então com a toalha enrolada na cintura, uma espécie de meia-toga-greco-romana. A sua frente, via a si mesmo. Encarava-se através do espelho.
Parecia até mais vivo do que antes. A fadiga dos olhos já sumira junto das olheiras. Mantinha a barba curta, e os cabelos ajeitados com a mão - nada de pente. A aparência jovial acentuava-se cada dia mais, desde que a conhecera. E, diga-se de passagem, depois daquele dia, cor a cor, foi refratando novamente a sua vida.
Ainda parado, aproximou-se cada vez mais de seu reflexo. E como que encarando a si mesmo - olhando sua face à qual fantasiava sendo a dela - nasce um sorriso de lábios, e consigo pensa; “tem que ser você”.




“Há um muro de concreto entre nossos lábios.
Há um muro de Berlim dentro de mim.
Tudo se divide; todos se separam.
A diferença é o que temos em comum...”.

[Engenheiros do Hawaii]




2 comentários:

Iuri Gabriel disse...

De qualquer forma, o muro de Berlim demorou 28 anos, para ser demolido do dia pra noite.

Pense nisso :]

Unknown disse...

Cara. Nunca separe sujeito de predicado com a vírgula. Além de quebrar a leitura fode com tua fama de bom escritor porra :p