sábado, 27 de setembro de 2008

Impessoal

Podia ter amaciado o fim, tornado o 'a-vida-é-assim-mesmo', em 'a-vida-é-um-grande-aprendizado', e quem sabe houvesse então um caminho para voltar, ou na verdade um caminho para ir, para que pudéssemos ser novos; pois isso nunca fomos.

Imutáveis e passivos como uma equação, porque nosso início meio e fim, se perderam em suas inúmeras semelhanças; fui somente homem e foste somente mulher, não fundimos as nossas diferenças e nem nos acostumamos com as belezas em nossas qualidades, pois fui somente ouvidos enquanto era necessário a fala, e foste a fala incessante enquanto eu clamava por ouvidos.

Uma boa lembrança sequer, nem isso nos restou; nunca me vesti de alegria enquanto compravas ou usavas teus vestidos, da seda à chita, eu só via teu corpo quando despido deles, pois em tua nudez eu me vestia em desejo e cegueira, e tu deixava jazer o vestido no chão, eras pura alegria e eu pura libido; separados os prazeres.

Você tentava se manter alheia, como se não estivessemos vivendo nada daquilo, enquanto eu queria me acabar de viver toda aquela possível história, morrer de amor e seus eteceteras, mas não falávamos a mesma língua e não íamos aos mesmos lugares, eu entrava pela porta que deixavas entreaberta por ter ido me buscar em qualquer lugar onde eu nunca iria, ou que eu já não estivesse. E chego a pensar que nunca lhe vi e nem você me viu pois fomos sempre desencontros, desde o primeiro olá até o primeiro adeus, nunca dito já que não foi necessário, já que só houve saudação, e que esta foi também despedida.
Pois, mesmo que sempre houvesse a mim, e houvesse também você, nunca houve nenhum tipo de nós.

2 comentários:

e para Maitê disse...

- A mais completa tradução de um "desamor".
Adorei este, se um dia fosse dizer algo quando chegasse o fim - diria isso.

Olá garoto, quanto tempo, não?!!
:)

Tugga disse...

Dolorosamente belo.
O melhor jeito de dizer adeus.

=)