quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Meia noite, sonhar!

"then rest, nature, books, music, love for one's neighbor - such is my idea of happiness. And then, on top of all that, you for a mate, and children, perhaps-what more can the heart of a man desire?"
[ Leo Tolstoy ]


Estavam(os) os dois há tempos sem a dádiva do toque e com a lembrança branca e iluminada daquele dia, que foi o último e ao mesmo tempo o primeiro; uma vírgula de um grande parágrafo; estavam(os), assim, na saudade do riso e na esperança do futuro, inventando ambos, enquanto não possuiam nenhum.
Entretanto, entre tantos meandros, estava(mos) os dois ali, juntos e distantes; entre risos sem som porém belos, foi jurado o amor.

Ela: Haha, sabe de uma coisa? Quero namorar.
Ele: Jura?
Ela: Sim, oras.
Ele: Eu namoraria você. Haha.
Ela: Jura?
Ele: Juro, seria lindo eu acho. Nossa cumplicidade é enorme.Acho que namoro é mais cumplicidade e amor do que qualquer outra coisa!
Ela: Acho que amor é mais que namoro.
Ele: É um estado de espírito!
Ela: Não gosto de nomear relacionamentos. Perde a graça e inibe a criatividade.
Ele: O amor é invenção.
Ela: Não acredite nele?
Ele: Acredito, claro, digo que ele é invenção, se inventar a cada dia para que ele renasça.
Ela: Acho que não quero namorar...Acho que apenas quero alguém que esteja comigo.
Ele: Te dou sorriso, carinho, respeito e poesia.
Ela: Bom, sendo assim, caso com você. Sorrindo.
Ele: Na praia!
Ela: Onde quiser!
Ele: Seria maravilhoso. Te imagino de vestida vestido branco, rendado, com flores no cabelo, pés descalços e um buquê de margaridas.
Ela: Te imagino de bermuda, descalço, com uma bata branca do algodão mais macio, te imagino me carregando no colo pela praia, e então caimos e rimos, e ficamos ali, deitados um sobre o outro. Haha, seria lindo.
Ele: Ah, imaginei uma vida boba e linda ao seu lado: Um Ap nos arredores da Paulista, ou uma casinha na Vila Madalena, numa rua sem saída.
Ela: E aí sairíamos de manhã pra comprar pão, fumaria, se você não se importasse, sempre me vi saindo de manhã, sem me arrumar, de óculos escuros e fumando. Se quiser substituo o cigarro.
Ele: Eu não me importaria de você fumar, não me importaria com nada estando com você; no domingo eu te acordaria de manhã com alguma música tocando bem alto.
Ela: E eu levantaria com uma camisa sua, e vc estaria preparando alguma coisa na cozinha!
Ele: Isso é o auge do amor.
Ele: Passar o dia na cama, acho tão legal, quando nos filmes o casal fica lá, enrolando, inventando pretexto pra se abraçar, dar risada, e terminar se amando.
Ela: Mas com a janela aberto. Gosto mais de quartos claros. Sem sol na cama, lógico. mas com luz. muita luz.
Ele: Chico Buarque?
Ela: Rolling Stones?
Ele: Os dois.
Ela: Baudelaire?
Ele: Neruda?
Ela: Os dois.

Por estarem distantes, se permitiram o silêncio a fim de imaginar, e pensar se tudo aquilo podia ser real; novamente, entre risos, disseram ao mesmo tempo:

Ele/Ela: Estou apaixonado!
Ele/Ela: Por mim?!
Ele/Ela: Claro.
Ele: Tenho sono.
Ela: Eu também.
Ele: Acho que é hora de ir dormir. E acordar do sonho.
Ela: Acho que é hora de acordar. E viver o sonho.

Terminaram ali, e ambos foram deitar; pensando um no outro, se relacionando sem saber, e mais do que imaginavam.



Querida Isa.



Nenhum comentário: