quarta-feira, 30 de abril de 2008

Começou o dia, funesta alegria!

"Menos pela cicatriz deixada, uma feridantiga mede-se mais exatamente pela dor que provocou, e para sempre perdeu-se no momento em que cessou de doer, embora lateje louca nos dias de chuva."
[CFA]


Não quero me tornar uma lembrança amarga em sua mente, dessas lembranças que nos passam pela cabeça em meio a tormentas e rosas murchas, lembrança com o cheiro fúnebre do passado que nunca volta, lembrança com aspecto esverdeado-podre ou algo que lembre a musgo ou limbo que fica impregnado na pedra da alma e não sai; o limo nunca sai, ele se recolhe, esperando a próxima chuva, sendo assim ele volta, com todo seu verde, trazendo novamente a ânsia, e a vontade de esquecer aquilo que se tornou inesquecível, inesquecível e triste.
Queria poder ficar num lugar bonito de suas memórias, nem que fosse por um ato, por algo que já fui e não pude ser para sempre - já que não se pode ser o mesmo para sempre- sempre foi bom ressuscitar e exorcizar nossos fantasmas, e fazíamos isso juntos, e ríamos disso depois, não quero me tornar um deles, me tornar o pior deles, aquele que não se pode exorcizar pois ele sempre volta. Mas a vida tem um modo curioso de dar novas cores aos nossos pensamentos e recordações, aquilo que outrora era cinza e morto pode se ganhar um colorido novo e belo, e mesmo a mais bela pintura já feita por nossos sentimentos pode, de uma hora para outra perder a cor e a vida, tornando-se cinza e triste; dá a impressão que sempre foi assim, sem ter sido. E bem sei que fui uma bela pintura em ti, só não quero perder minhas cores, pois são tão... Nossas!

Não queria que deixasse de associar à mim palavras boas e bem intencionadas, palavras bonitas ou mesmo engraçadas, que parasse de me dedicar à suas músicas favoritas, os teus poemas mais bonitos e aos teus dias mais ensolarados; quero permanecer assim para ti.
Não, não justifica toda a ausência que acabo causando, mas saiba:
Odiaria que você enjoasse de mim, que eu me tornasse previsível aos teus olhos pois nada dói mais à um amor do que quando ele cai numa rotina sistemática e fria. Quero sumir de ti e poder voltar sempre mudado, quero surpreender-te ao longo dos tempos, quero te conquistar de uma forma diferente em diferentes dias; não posso me dar ao luxo de que você se acostume comigo e que meu rosto se torne comum para você, afinal o amor se faz de emoções e não de conforto, o amor se faz de aventura e incerteza, não de segurança.

Não quero ser para ti um porto seguro querida, afinal o que é o amor senão uma grande união de desvios e curvas.










sexta-feira, 25 de abril de 2008

"Agora as coisas vão bem mais, o tempo é inexorável e um dia você se arrependerá..."

Tarsila do Amaral...


Descuidei da vida, e já não sei nem mesmo escrever, algo que antes me movia, hoje me preocupa não sei bem onde começou, ou se é que teve um início -pode ter sido sempre assim, eu só não vi.

Descuidei e perdi meu riso alegre, em seu lugar anda algo que não sei bem ao certo o que é; algo não puro, algo sarcástico ou mesmo amargo.

Descuidei e me desculpo, o ano não está nem no meio e já clamo por um novo; pra que eu possa me reencontrar quem sabe. Onde é que deixei tudo cair dessa forma, onde foi que comecei a matar aquilo que me nutria, onde começou esse processo, tão lento quanto imperceptível?

Queria desfrutar mais dos abraços, ou apenas encontrar o meu próprio refugio, alguém ( algo) em quem repousar a mente cansada, esperar para ser esquentado, tanto no corpo quanto na mente.

Não é assim, não dá pra ser dessa forma, não dá pra eu me perder dessa maneira, logo eu que sempre fui tão cuidadoso, comigo, com os outros e tudo mais; queria achar de novo aquele brilho que eu carregava nos olhos, aquela vontade de viver e tirar dos meus dias (mesmo que chuvosos e tristes), motivos suficientes pra dizer ao fim:

Eu vivi!

Peço desculpas a todos, mas esse período me parece longo; e não haverá beleza alguma!

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Estou pensando em coisas mortas e no passado que elas tiveram, pensando no podre das almas, e no cansaço dos corpos, pensando nos naufrágios diários e no óleo que se derrama, pensando em supernovas, estrelas anãs, segundos sóis e principalmente em buracos negros; pensando na aridez dos desertos e na fome que se alastra, e na sede que está por vir: - A grande sede.
Penso na extinção de muitas espécies e penso na tortura dos humanos, penso nos crimes sem solução e na dor que estes causam, penso nas guerras e conflitos dos orientes, dos ocidentes e aqueles em nossos horizontes.
Penso em chacinas e nos cortejos que passam após, penso em bocas fechadas, olhos tristes
e sorrisos vagos; penso em famílias separadas e crianças adulteradas, penso nas igrejas e nos seus pecados, capitais ou não!

Penso no fogo que nos queima internamente e que nos cega a vista, penso no frio que se abriga nas mãos e vozes dos homens, penso nos genocídios nunca noticiados.

Penso nessas coisas que tanto enobrecem o mundo que vivemos, penso nessas coisas que as ruas nos mostram, e os poetas escondem.

Pense nisso.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Cresça(mos)

" Tragam uvas negras
Tragam festas e flores
Tragam corpos e dores
Tragam incensos e odores"

[Mutantes]


Mostrar a ti o sol que existe silencioso por detrás dessas nuvens cinzas de chuva ácida e medo, te provar que está tudo bem tudo calmo, o sol silencioso sempre prevalece e sempre nos aquecerá, te mostrar o som das agulhas contra o bom e velho vinil, e com isso te lembrar da nostalgia e beleza que pode nos trazer uma boa música; te levar às mais belas praia... Em pleno inverno, para que estejam vazias e frias, como as mentes dos seres humanos que as frequentam durante o calor.
Te fazer chorar para que descubra no sal da lágrima, um novo sabor chamado aprendizado, e te mostrar também o riso, que traz consigo o sabor da recompensa por todo o sal que por tua face escorreu.
Provar contigo dos mais variados tipos de cheiros de flores, e mais ainda do cheiro de aventuras, e ao fim repousar ao pé de alguma árvore frondosa e bela, pra que te lembres da sua infância, afim de que não esqueça de sua base. Aspirar novos ares, observar o céu ainda que encoberto, apontar para as estrelas, só pra se sentir mais vivo, mais perto de toda essa natureza que nos cerca.
Te mostrar os livros, para que mergulhe pra fora dessa nossa realidade, e entre na realidade que o outro quer te mostrar, e assim não se acostumar com o mundo, e tudo que nele ocorre, pois nada mata mais o ser humano do que se acomodar e deixar que tudo ocorra; Mostrar o valor do abraço num dia de chuva, e o mesmo abraço num dia de alegria, torcendo para que perceba qual deles é mais importante. Mostrar as vistas das janelas, mostrar as entradas das casas, os caminhos da alma, e os atalhos do corpo.
E faria tudo isso, e faria além, afim de que ao fim, pudesse repousar minha tristeza e meu cansaço:
Em todo a paz que haveria dentro de ti.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

'Gente é pra brilhar,
Não pra morrer de fome'
[ Caetano Veloso]


Ser humano é bicho doido! Anda com pressa por estar atrasado, mas nunca anda rápido pra chegar mais cedo, só se toca quando o bonde se vai, só corre atrás daquilo que se foi e pode nunca mais voltar ( assim como as flechas, os sorrisos e os beijos); E o ciclo recomeça, a calma aparente - sempre difundida pela ilusão do 'sempre' - se transformando aos poucos em pressa, em medo e preocupação, até que se constata:
- Estou perdendo.

É tarde e o que era 'sempre', se torna nunca...
E o 'nunca', é algo que dura pra sempre.

Não deixe que a calma vire pressa, e se puder, se apresse em valorizar teu bonde ( da vida, do amor, da alegria ou qualquer dessas coisas que o dinheiro, ainda não compra ).
Valorizemos aquilo que precisamos de um pouco de sentimento para alcançar.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Sonhos de uma noite de inverno!

Durma bem e sonhe alto.
Repetiu 3 vezes, queria fixar isso na mente, tinha achado uma frase bonita e singela, dava uma sensação de conforto, de que com uma boa noite de sono ( e sonhos ) resolveria tudo, pois sempre há com o que se sonhar.


- Durma bem e sonhe alto! Que acha?
- Que preciso disso.
- Dormir bem e sonhar alto?
- Não preciso nem do sonho, não sou tão ambicioso assim.
- Não é ambição alguma sonhar, é essencial aliás!
- Que papo é esse? Desde quando é filósofo?
- Nada demais oras, mas sonhar faz bem, te dá a sensação de que dá pra melhorar as coisas.
- Viver é mais prático, sonhar custa muito tempo.
- Preciso de outra pessoa pra falar sobre isso, você está muito desesperançosa.
- Desculpe meu bem, as coisas não andam fáceis, perdi inclusive a capacidade de demonstrar carinho, essa esperança no que talvez venha a acontecer. Preciso de motivações, e essas andam escassas, me perdoe a frieza e a minha aspereza, não é fácil amadurecer.
- Encosta aqui!
- Calor...
- Estamos em junho moça, calor está um tanto longe.
- Falo do seu abraço... Quem sabe é isso mesmo, preciso sonhar.

Festa junina, é um outro disfarce bom pra beber e ficar idiota, falar besteira, falar alto, ser indiscreto/indecente; Naquela noite em especial, o cenário estava ainda mais deprimente que de costume, mas eles estavam acima de tudo aquilo, eram mais bonitos que toda aquela sujeira, destoavam daquele cenário de degradação, era como se houvesse uma bolha, ou algo que os protegesse de tudo aquilo, algo que realçava os louros dele se mesclando aos negros dela; E assim se seguia, com os castanhos dele fixos aos azuis dela, o dourado surfista da pele dele contrastando com a lua refletida num lago, da pele dela.

- Olha só!
- O quê?
- Eu preciso dormir, ou sonhar alto já basta?
- Haha,pra sonhar tem que dormir poxa vida.
- Não não, essa lua inspira, to sonhando acordada
- Esse frio inspira, creio também estar sonhando acordado nesse caso.
- Acho que fui rude, sonhar de fato faz bem. Me perdoa?
- Seus lábios se desculpam melhor do que sua voz...
- Como?
- Nada, estou sonhando acordado, o frio está inspirador. Já disse isso né?
- Bobo. Acho que não é a lua, a lua me parece fria, algo frio não pode inspirar.
- Claro que pode!
- O que por exemplo?
- Esse frio de hoje, que te obriga a me abraçar.

Dali para o fim da noite, o frio, a lua e o beijo, passaram num instante, ou vários, não se sabe.E do nascer do sol para frente ficou claro, sonhar é válido;
Acordar é triste.

quarta-feira, 2 de abril de 2008